O Brasil recebeu uma notícia estarrecedora nesta quinta-feira (29/12). Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, morreu aos 82 anos. Uma das filhas do Rei do Futebol, Kelly Nascimento confirmou a informação em seu perfil no Instagram. “Tudo que nos somos é graças a você. Te amamos infinitamente. Descanse em paz”, escreveu. O Hospital Israelita Albert Einstein, onde ele estava internado, afirmou, em boletim médico, que o ex-atleta faleceu às 15h27, em decorrência de falência múltipla de órgãos, resultado da progressão do câncer de cólon associado à sua condição clínica prévia.
Considerado o melhor futebolista de todos os tempos, ele conquistou três Copas do Mundo representando a seleção brasileira, além do bicampeonato da Libertadores da América, do Mundial de Clubes e do hexa do Brasileirão com a camisa do Santos Futebol Clube. Longe dos gramados, o mineiro também se destacou participando de filmes, novelas e até mesmo sendo ministro do Esporte no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Nascido em 23 de outubro de 1940, na cidade de Três Corações, em Minas Gerais, Pelé despontou no Santos com somente 15 anos de idade, chegou à seleção brasileira um ano depois e levantou o seu primeiro título com a Amarelinha aos 17, ajudando o Brasil a ganhar a sua primeira Copa, em 1958, na Suécia – o craque marcou três vezes na semifinal contra a França e ainda anotou dois gols na grande decisão diante dos anfitriões. No Santos, Pelé permanece com o status de maior ídolo da história. Desfilando o seu talento por cerca de 18 anos no time da Vila Belmiro (1956 – 1974) , o atacante não só faturou 24 títulos (veja a lista completa abaixo), como anotou 1.091 gols em 1.116 partidas e ajudou a divulgar o nome do clube mundialmente, não só como protagonista nas conquistas, mas também quando era atração das expedições da equipe ao redor do planeta – na época, era comum o Peixe marcar vários amistosos em lugares como Europa e África.
Representado a sua nação, Pelé foi igualmente vitorioso. Além da já citada Copa do Mundo de 1958, o Rei do Futebol esteve no bicampeonato, quatro anos depois, em 1962, quando se machucou na segunda partida da competição, mas incentivou seus companheiros ao título, no Chile. No Mundial seguinte, é verdade, o craque e o restante da seleção naufragaram no torneio realizado na Inglaterra. Em 1970, no entanto, Pelé viveu o seu melhor momento com a camisa verde e amarela, levando o Brasil ao tri e se consagrando como o melhor da competição realizada no México. No ano seguinte, fez seu jogo de despedida em um Maracanã abarrotado, que contou com mais de 138 mil pessoas.
Pelé ainda foi importante para fomentar o esporte nos Estados Unidos. Em 1975, o já ícone do futebol aceitou o convite do New York Cosmos. Lá, o artilheiro ainda participou do inédito título do campeonato nacional, em 1977, ano em que encerrou a sua carreira oficialmente. “Levando em consideração o futebol, lá se joga apenas cinco meses. Aqui, a gente jogava o ano todo. Então, dá mais tempo de atender compromissos particulares e a família. Mas tem alguns compromissos de publicidade, de relações públicas. Eu estou dando aulas em universidades de futebol, mas, ainda assim, é uma vida mais tranquila nos EUA”, disse Pelé, em entrevista à Jovem Pan, em 1976, antes de um jogo festivo pela seleção.
Fora dos gramados, Pelé se aventurou em outras artes – ele fez participações especiais em filmes, como “Os Estranhos” e “Os Trombadinhas”. Também apareceu na tradicional novela “O Clone”, da TV Globo, em 2001, e entrou em algumas edições dos programas humorísticos “Casseta & Planeta” e “A Praça é Nossa”. Além disso, gravou músicas com a ex-cantora Elis Regina e trabalhou em diversas peças publicitárias.
Pelé também chegou a fazer parte da política brasileira. Em 1995, ele foi nomeado ministro do Esporte por Fernando Henrique Cardoso, recém-empossado presidente da República. Em pouco mais de três anos à frente do ministério, Pelé levou como bandeira de sua gestão a modernização do futebol e a garantia dos direitos trabalhistas dos atletas profissionais. A Lei Pelé foi sancionada pelo governo em 1998 e determinou a extinção da figura do passe nos contratos dos jogadores. A aprovação do projeto sofreu forte lobby do Clube dos 13, que reunia os principais dirigentes do país e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O projeto original sofreu diversas modificações durante seu trâmite na Câmara e no Senado. Pelé conseguiu, porém, abolir o passe e forçar a profissionalização dos departamentos de futebol dos clubes.
Em relação a sua vida pessoal, Pelé era casado com Márcia Aoki desde 2016 – ele estava em seu terceiro casamento. A lenda do futebol deixa seis filhos: Edinho, Kelly, Flávia, Joshua, Celeste e Jennifer. Nos últimos anos, o Rei já havia apresentado alguns problemas de saúde, reclamando de dores constantes nas costas e demonstrando dificuldade para andar por causa de complicações derivadas de um transplante de quadril. No início de 2020, ele chegou a comentar o seu estado ao rechaçar um quadro de depressão. “Obrigado por suas orações e preocupações. Eu estou bem. Estou completando 80 anos este ano. Eu tenho meus dias bons e maus. Isso é normal para pessoas da minha idade. Não tenho medo, sou determinado, sou confiante no que faço. Tenho vários eventos futuros agendados. Eu não evito cumprir compromissos da minha sempre movimentada agenda. Continuo aceitando minhas limitações físicas da melhor maneira possível, mas pretendo manter a bola rolando. Deus abençoe todos vocês”, declarou.
Títulos de Pelé no Santos
- Campeonato Brasileiro: 1961, 1962, 1963, 1964, 1965, 1968
- Copa Libertadores da América: 1962, 1963
- Mundial de Clubes: 1962, 1963
- Recopa dos Campeões Intercontinentais: 1968
- Campeonato Paulista: 1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967, 1968, 1969, 1973
- Torneio Rio–São Paulo: 1959, 1963, 1964
Título no New York Cosmos
- North American Soccer League: 1977
Títulos de Pelé na Seleção Brasileira
- Copa do Mundo: 1958, 1962, 1970